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Um gesto de amor que pode salvar vidas. Assim pode ser definido, em poucas palavras, o ato de doar leite. O gesto possui até uma data no calendário: 19 de maio, Dia Mundial da Doação de Leite Materno, mas as ações em torno da causa podem e devem ser feitas a qualquer época do ano.
Se atualmente o Amazonas é referência no assunto, com mais de 46 mil litros de leite humano coletado nas últimas duas décadas, o resultado é fruto de um trabalho iniciado ainda em 2004, com a inauguração do primeiro Banco de Leite Humano do Estado, no Governo Eduardo Braga.
O primeiro Banco de Leite Humano do Amazonas, que funciona na Maternidade Ana Braga foi inaugurado para ampliar as condições de aleitamento materno, na época. Nos dias atuais, o local é considerado o maior BLH da Região Norte, de acordo com o relatório da Rede Nacional de Bancos de Leite Humano (RBLH), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Só no primeiro ano de funcionamento, o banco de leite captou e pasteurizou 1.592 litros de leite, para distribuição a bebês prematuros, internados nas unidades hospitalares. O alimento é essencial para a saúde dos recém-nascidos e também das mulheres puérperas.
Números mais recentes divulgados com pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), mostram que de acordo com o último balanço, o banco de leite da Maternidade Ana Braga arrecadou pouco mais de 1.400 litros de leite doados, total inferior ao que foi arrecadado no ano de inauguração.
Embora outros dois bancos de leite humano tenham sido criados ao longo dessas duas décadas, o Amazonas ainda carece de projetos voltados à humanização das mulheres e dos recém-nascidos. Para se ter uma ideia, a última maternidade construída e inaugurada pelo Governo do Estado foi a Ana Braga, no mandato de Eduardo Braga. A população cresceu. A demanda é maior. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado, que tinha em 2004 o número estimado de 3.148.420 habitantes, hoje possui população estimada de 3.941.175.
Ações voltadas à saúde da população, e aqui, especificamente à saúde da mulher, são necessárias. A saúde sempre deve ser prioridade para um Amazonas mais humano. Os estoques dos bancos de leite humano se mantêm com a colaboração voluntária das mães em fase de amamentação e que tenham leite excedente, mas com o acompanhamento do Estado.
A doação de leite é recomendada a bebês recém-nascidos, de extremo baixo peso, que precisam desse leite para sobreviver, bebês que estão em UTIs, nascidos prematuros, entre outros, como explica a nutricionista Luciana Anjos.
“A mãe desse bebê, geralmente, por conta da preocupação, porque o leite materno é produzido através de hormônios no corpo da mulher, da mãe. Então, com a preocupação, a ansiedade por saber que tem um bebê correndo risco de morte na UTI, ela geralmente para de produzir o leite, o leite seca, literalmente. Para que esse bebê sobreviva, para que ele tenha acesso ao leite materno, o leite de outras mães é pasteurizado nos bancos de leite e distribuídos nas UTIs neonatais”, destaca.
Os benefícios da amamentação para a saúde do bebê e da mulher que amamenta são diversos, segundo especialistas. O leite contém uma mistura ideal de gorduras, proteínas e carboidratos essenciais para o desenvolvimento cerebral e físico do bebê. Além disso, é rico em anticorpos e outras substâncias bioativas que desempenham papéis fundamentais na proteção contra infecções e doenças.
Segundo a nutricionista Mariana Barbosa, a ingestão de leite humano nos primeiros meses de vida traz inúmeras vantagens.
“O leite humano é, sem dúvidas, a melhor opção nutricional para o recém-nascido e o lactente, superando as fórmulas infantis em diversos aspectos cruciais. Este alimento natural é complexo e dinâmico, ajustando-se às necessidades específicas do bebê em diferentes estágios de desenvolvimento, algo que as fórmulas infantis não conseguem replicar completamente”, diz.
O leite humano é recomendado pela Organização Mundial da Saúde durante os primeiros seis meses de vida, com a continuação da amamentação junto com alimentos complementares adequados até os dois anos de idade ou mais. As vantagens a longo prazo incluem menor incidência de alergias, doenças crônicas como diabetes tipo 2 e obesidade, além de benefícios cognitivos e emocionais duradouros.
A doação de leite humano pode ser realizada em qualquer fase da amamentação, basta que a mulher esteja saudável e tenha excesso de leite. Não é necessário sair de casa para a coleta, pois, uma vez acionadas, as equipes de saúde levam os kits necessários à realização do procedimento.
Fotos: Rodrigo Santos/SES e Arquivo Eduardo Braga